Tirando a piadinha velha, porém inevitável, de que uns defendem A monografia, outros SE
DEFENDEM DA monografia, passo a levar-lhes algumas dicas que podem ser úteis
para quem ainda não passou por esse importante momento da vida acadêmica.
PRIMEIRO – PREPARE-SE:
- ir para a apresentação na base do improviso é um grande (grandíssimo)
erro; não é porque você pesquisou e escreveu que você está pronto para
apresentar;
- leitura, escrita e fala são ferramentas complementares, mas distintas;
- na sua apresentação, ninguém te interrompe, então é um momento que
pode e deve ser bem ensaiado, até mesmo decorado (em casos extremos);
- ensaie, ensaie e ensaie; peça para alguém te ouvir apresentar;
apresente para o espelho – mas ensaie!
- ...e, complementando o item anterior, ensaie falando! Não adianta “falar
na mente”, tem que “falar com a boca”! Ninguém engasga, gagueja ou se confunde
quando está pensando... Treinar o ato da fala é essencial para o sucesso da
apresentação que é... Advinha??? Falada!
SEGUNDO – MONTE SUA
APRESENTAÇÃO:
- a apresentação é um ritual de movimentos mais ou menos pré-definidos;
embora exista sempre um grau de imprevisibilidade, há uma rotina a ser
cumprida, obrigatoriamente – é isso que vamos discutir abaixo.
- na graduação, você terá 10 minutos, prorrogáveis por mais 5, somando
um tempo máximo de 15 minutos, dentro dos quais você deverá introduzir,
desenvolver e concluir sua apresentação;
- a divisão de tempo que sugiro é uma estimativa, mas serve de base para
seu planejamento: calcule aproximadamente 4’ para introdução, 7’ para
desenvolvimento e 2’ para conclusão (isso dá uma soma de 13 minutos, deixando
uma folga de 2 minutos, caso seja necessário); vejamos cada uma dessas etapas
em detalhe:
a) INTRODUÇÃO (aprox. 4min):
- o que estou aqui chamando de introdução é fielmente igual à introdução
de seu trabalho (considerando que ela tenha sido feita da forma técnica);
- inicie pelos cumprimentos de praxe: professores da banca, bom
dia/noite; meu nome é ____. Mas, POR FAVOR!!! Sem peroração na hora de
cumprimentar a banca. Seja educado, porém seco e objetivo. Um “professor Fulano,
professor Ciclano e professor orientador Beltrano” é mais do que ótimo. Nada de
“estimadíssimo, digníssimo, importantíssimo Fulano”. Qualquer deslize será
considerado bajulação barata e você passa ser mal visto pela banca.
- de imediato, comece a apresentar os elementos-chave de seu trabalho,
conforme detalhado a seguir (você pode e deve usar essa mesma ordem, que segue
a ordem de sua introdução, se feita corretamente):
1. meu trabalho se intitula ______;
2. meu tema foi _____ e meu subtema foi ____;
3. o problema levantado foi _____;
4. a hipótese da pesquisa foi _____;
(se você não trabalhou sobre um problema específico, apresente os
objetivos gerais e específicos de seu trabalho no lugar dos pontos 3 e 4)
5. a justificativa (relevância)
da pesquisa é que ____; (ou seja,
explique porque o problema investigado é relevante para a sociedade e/ou para a
cultura jurídica – você pode fazer isso de diversos modos, como, por exemplo,
demonstrar as diversas consequências de se adotar um ou outro posicionamento a
respeito do problema investigado; ou demonstrar a repercussão social de um
certo tema e a necessidade de melhor compreendê-lo)
6. a metodologia de pesquisa adotada foi ____; (em geral, no curso de direito, usamos como metodologia o método dedutivo, a partir da leitura e análise de doutrina, legislação e julgados
relevantes para o problema)
7. a base teórica adotada foram os autores _____ (citar os principais livros lidos que embasaram a pesquisa);
8. o texto foi organizado em 3 capítulos: no primeiro, tratei do assunto
____; no segundo, do assunto ___; no terceiro, fiz a discussão do problema
investigado; (aqui você pode e deve
traçar as linhas gerais dos dois capítulos iniciais, mas não dê detalhes do
capítulo em que se encontra a discussão, pois você fará isso a seguir); (falo aqui de três capítulos porque, em
geral, essa é uma estrutura bastante boa para um trabalho de graduação, mas,
obviamente, você deve adaptar sua apresentação conforme o as especificidades de
seu trabalho).
- se você leu minhas dicas sobre como redigir a introdução, você está
percebendo que a introdução da apresentação corresponde fielmente à introdução
escrita – e é assim, mesmo.
- isso fecha a introdução; pode estar parecendo grande, mas não é; essas
falas devem estar bem ensaiadas, memorizadas; vou repetir: improviso aqui
equivale à morte; se você não consegue completar essas frases sozinho (isso é um sinal de problema...), peça
ajuda para seu amado orientador.
b) DESENVOLVIMENTO (aprox.
7min):
- aqui a regra de ouro é: ATENHA-SE AO PONTO CENTRAL da discussão;
- tenha em mente que seu texto foi escrito ao longo de meses e não é
possível falar tudo que você aprendeu/escreveu em alguns minutos – nem tente;
nem queira...
- depois de ter apresentado o conteúdo dos capítulos na introdução, você
poderá ir diretamente para a discussão central, dizendo alguma coisa parecida
com isto: bem, após ter tratado do
assunto____ no capítulo 1 e do assunto ___ no capítulo 2, no terceiro capítulo
eu tratei da discussão sobre o problema da ____ (repetir o problema) –
então comece a explicar;
- atenção: você deve
sempre (no texto e na
apresentação) tratar dos dois (ou mais) lados da discussão; sempre haverá prós
e contras, correntes favoráveis e desfavoráveis a um determinado
posicionamento; é um grave erro apresentar somente uma delas (geralmente o aluno apresenta apenas aquela
corrente com a qual concorda, o que mostra deficiência, porque o conhecimento é
um diálogo e, então, se você está falando sozinho, você não tem conhecimento);
- você pode planejar sua apresentação com a seguinte estrutura (repito,
isso é uma ideia para você adaptar conforme o caso específico de seu trabalho):
1. repita a justificativa, de modo rápido/resumido;
2. apresente os argumentos de um posicionamento, ou seja, cite a argumentação,
os fundamentos teóricos de uma posição; na sequência, cite doutrinadores
importantes e/ou julgados relevantes que sustentam essa posição;
3. faça o mesmo com o(s) posicionamento(s) contrário(s);
4. aponte qual deles é predominante (ou a inexistência de predominância);
(Se você não trabalhou sobre um problema específico, aponte os
resultados alcançados – você tinha objetivos gerais e específicos; então, o que
conseguiu? Qual foi o fruto do seu trabalho? O que você pode dizer a partir de
seu estudo?)
c) CONCLUSÃO (aprox. 2min):
- na conclusão você vai repetir de modo sintetizado os principais
elementos já ditos. Alguns exemplos de frases a usar:
1. Então, conforme dissemos no início, o trabalho tinha por objetivo pesquisar
a respeito do problema ___;
2. Partimos da hipótese ____;
3. A hipótese foi confirmada (ou não foi confirmada) pela pesquisa, pois
a maioria da doutrina/jurisprudência se posiciona no sentido ____, conforme se
viu;
(Ou, se não trabalhou com um problema específico, dizer que 2. os
objetivos eram ___; 3. esses objetivos foram alcançados, podendo-se dizer que
___ informar o resultado da
pesquisa/estudo____);
4. Eventuais comentários sobre algum detalhe técnico a corrigir ou
acrescentar ao texto ou à pesquisa como um todo;
5. Agradeça pela atenção da banca e coloque-se à disposição para os
questionamentos.
* OBSERVAÇÕES GERAIS:
- elabore um roteiro de sua apresentação (um roteiro é uma seqüência
das ideias/palavras-chave que você apresentará, para não deixar nada
para trás);
- Esse roteiro da sua apresentação PODE e DEVE ser impresso e
compartilhado com os membros da banca;
- porém, não leve um texto para ser lido; isso tira a naturalidade de
sua apresentação e a banca te avalia mal;
- é melhor uma apresentação gaguejada, porém espontânea, do que uma
apresentação meramente lida de ponta a ponta – afinal, saber ler é requisito
para você entrar no curso, não para dele sair;
- se elaborar slides de PowerPoint, leve-os impressos para os membros da
banca. No âmbito da graduação de direito, considero raríssimas as exceções que
justificam uma apresentação com slides. Pense: você dorme quando seu professor
põe os slides, não é? Eu sem dúvida durmo... Então, você quer que seu
avaliador/banca durma no momento crucial de seu trabalho? A não ser que você
seja um mestre das apresentações criativas, sugiro que não use slides.
TERCEIRO – estude seu texto.
- não é ironia; sei que foi você quem o escreveu!
- mesmo assim, uma coisa é escrever, outra é estudar; não é porque você
escreveu o texto que você tem na memória cada detalhe de cada parágrafo de cada
página;
- você deve ler e reler seu texto; sublinhá-lo; fazer anotações nas
margens etc.
QUARTO – leve CONSIGO uma cópia impressa:
- você provavelmente precisará consultar seu texto para checar alguma
informação ou verificar algum comentário da banca;
- essa cópia impressa deve ser aquela que você leu e releu, sublinhou e
anotou; leve-a consigo para a sala de apresentações.
QUINTO – leve caneta e papel:
- às vezes, numa mesma pergunta, são abordados vários pontos que devem
ser todos respondidos/comentados; nem todos os professores são bonzinhos e/ou
didáticos o suficiente para repetir de modo mastigado os pontos a serem
respondidos/comentados;
- por mais zen-budista que você seja, você estará nervoso; portanto, não
confie na memória e leve papel e caneta;
- enquanto o professor fala, vá anotando os pontos principais, na forma
de tópicos, para depois comentar cada um dos pontos levantados, mesmo que não
tenha sido feita uma pergunta direta. (Tem
sempre aquele professor que gosta de fazer palestra na hora de perguntar... Ele
quer mostrar pra todo mundo que sabe sobre o assunto etc. etc. etc.... É um
saco até para os outros colegas, PORÉM não se iluda! Você deve interagir! Ouça
com atenção, anote as passagens principais da pergunta/palestra e, ao fim,
comente – nem que seja para comentar que, sobre aquele tópico, precisaria se
aprofundar mais etc.)
SEXTO – SEJA HONESTO:
- a pior tragédia para um aluno diante de uma banca é ele ser perguntado
e “chutar” a resposta; se você não sabe, diga que não se atentou, em sua
pesquisa, para esse ponto, ou que não tem certeza, mas supõe que isso ou aquilo
etc.;
- uma boa resposta para uma questão que você não sabe é dizer que não
checou essa informação porque se ateve mais a outro aspecto da discussão, que
lhe pareceu mais relevante;
- outra boa resposta é tentar demonstrar que, na verdade, a pergunta que
te foi feita está fora do foco central de seu trabalho;
- de toda forma, nunca dê respostas no “piloto automático”; pare,
respire, processe mentalmente a pergunta e – só depois – fale.
SÉTIMO – SEJA HUMILDE:
- por mais que um dos professores não seja o seu ídolo, nunca lhe seja
grosseiro ou áspero.
- demonstre respeito pelos comentários de todos da banca – não precisa
ficar babando o ovo de ninguém, porque isso também pega mal; apenas seja
elegante com suas palavras.
OITAVO – ESCUTE A BANCA:
- alguns professores resolvem fazer palestras ao invés de perguntas; se
isso acontecer contigo, esteja atento porque o professor poderá não fazer uma
pergunta direta, mas abordar um assunto e pedir para que você o comente;
- nesse caso, diga de modo simples o que você pensa sobre o tema;
- uma boa forma de enfrentar uma situação assim, caso você não tenha
opinião sobre o assunto, é fazer uns poucos comentários e dizer que ainda não
tinha percebido a relevância daquele ponto levantado – o que seria um bom
objeto de pesquisa para uma especialização...
NONO – LEVE ÁGUA, MAS NÃO LEVE
COMIDA:
- pode ser que não tenha água para você no local, mas certamente você
precisará de água, pois sua boca vai ressecar;
- PORÉM, não leve nada para mastigar (chocolates, biscoitos, chicletes etc.)
– se você mastigar alguma coisa durante a apresentação, eu mesmo reprovo você –
te reprovo do TCC, da graduação, reprovo até seu jardim de infância!
DÉCIMO – RELAXE, O PIOR JÁ
PASSOU:
- embora você tenha motivos para estar nervoso, tente acalmar seu espírito;
confie no seu trabalho escrito; a banca está lá para reprovar as fraudes, não
para ser um empecilho a um trabalho honesto; se você fez seu trabalho
honestamente, mesmo que ele não esteja o melhor dos textos, ele tem grandes
chances de ser aprovado.
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